03/07/2011
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09h11
Novas técnicas dão cor a animal extinto
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE CIÊNCIA E SAÚDE
EDITOR DE CIÊNCIA E SAÚDE
Os membros mais espetaculares da fauna extintas do planeta andam
passando por uma bateria de cirurgias plásticas digna de socialites em
crise de meia-idade.
Técnicas cada vez mais precisas de análise de fósseis são responsáveis pelas mudanças radicais de visual.
Pela primeira vez desde que a paleontologia nasceu, há cerca de 200
anos, os cientistas estão deixando de se contentar com meros chutes bem
informados na hora de dizer que cor um dinossauro tinha, por exemplo.
As possibilidades se estendem a criaturas que sumiram há menos tempo da
face da Terra, como os mamutes-lanosos e nossos primos hominídeos, os
neandertais.
Universidade de Zurique/France Presse |
Reconstrução de neandertal; DNA aponta cabelos claros |
ROMPENDO LIMITES
Uma pesquisa publicada na versão eletrônica da revista americana "Science" documenta outro grande avanço nessas técnicas.
A equipe liderada por Roy Wogelius, da Universidade de Manchester, no
Reino Unido, obteve pistas sobre a cor de uma ave de 120 milhões de anos
com base na composição química do fóssil.
O truque toma partido do fato de que a melanina, uma das principais
'tintas' bioquímicas do reino animal, aparece associada a traços de
determinados metais, como o cobre e o zinco.
De olho nessa possibilidade, Wogelius e companhia examinaram os
espetaculares fósseis do modesto Confuciusornis sanctus, que tinha
tamanho equivalente ao de um corvo moderno.
O fóssil chinês (não é por acaso que ele leva o nome do maior filósofo
da China) possui penas excepcionalmente bem preservadas. Esse, aliás, é o
destino de outros dinossauros e aves primitivas encontrados no país
asiático. RAIO-X A equipe de Manchester submeteu o bicho a um tipo
especial de raio-X, que opera num aparelho de luz síncrotron (um tipo de
acelerador de partículas).
O exame permitiu visualizar com precisão as áreas onde havia
concentração de metais e que, em vida, provavelmente concentravam
pigmento escuro. A reconstrução feita pelos cientistas indica uma
gradação delicada de claro e escuro, com o peito mais preto e as pontas
das asas esbranquiçadas.
Análises semelhantes podem, em tese, ser aplicadas a outros fósseis com
tecido mole preservado. Mas dá para ser ainda mais específico, fazendo
desenhos detalhados da distribuição de cores do bicho, caso o
paleontólogo tenha a sorte de achar um fóssil com estrutura microscópica
preservada.
A chave, nesses casos, são os melanossomos, estruturas especializadas
das células cuja função é carregar melanina, como o nome sugere.
TONS DE RUIVO
Há dois tipos básicos de melanossomo, um associado a tons que vão do preto ao cinza, outro a tons do castanho até o "ruivo".
Uma série de pesquisas publicadas no ano passado trouxe a público as
primeiras reconstruções da plumagem de dinossauros com base na
distribuição de melanossomos.
A mais famosa é a do Anchiornis, do tamanho de um frangote e, se os
paleontólogos estiverem corretos, com a aparência de um pica-pau de
desenho animado, mesclando preto, branco e vermelho em seu modelito.
Finalmente, no caso de espécies mais próximas de nós, a extração de DNA
dos fósseis é a grande responsável por retratos mais acurados. Uma
variante do gene MC1R, identificada a partir de ossos de neandertais da
Espanha, indicou a presença de ruivos na população dos hominídeos.
Essas estimativas não são apenas divertidas. Também ajudam a testar hipóteses sobre o comportamento das criaturas extintas.
O padrão de coloração pode indicar se penas ou pelos eram usados como
adornos para intimidar adversários ou para conquistar parceiras, a
exemplo do que ocorre entre os animais de hoje.
FONTE: Folha.com/Ciência
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