16/07/2011
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08h27
Expedição vai mapear práticas sustentáveis no Pantanal
MARCELO LEITE
ENVIADO ESPECIAL A MIRANDA (MS)
ENVIADO ESPECIAL A MIRANDA (MS)
A pujança do Pantanal e o fascínio que sua natureza exerce sobre
empresários do Sudeste ficam evidentes no campo de pouso da Estância
Caiman: dois helicópteros e vários aviões se aglomeram na grama, a
poucos metros de uma das imensas baías que fazem a fama da região.
O 10 de julho era de comemoração: a 18ª Festa Pantaneira, cujo ponto
alto não foi a prova de laço, como de costume. Em lugar de cavalos e
bois, o lugar de honra estava ocupado por uma camionete paramentada com
adesivos dos patrocinadores da Expedição Pantanal (Instituto SOS
Pantanal, Fundação Toyota, Supermercados Comper e governo de Mato Grosso
do Sul).
Até dezembro, a equipe percorrerá 19 mil km, em nove rotas da bacia do rio Paraguai em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.
Na expedição, que tem custo total de R$ 550 mil, eles têm uma missão singular em suas andanças: conversar.
O objetivo dos expedicionários é recolher e mapear, em cada propriedade,
pousada e instituição visitada, um acervo de práticas econômicas e
culturais que concorram tanto para melhorar a renda da população quanto
para preservar o ambiente.
Os interlocutores serão fazendeiros, pescadores, cozinheiras,
ribeirinhos, índios, peões e isqueiros (os fornecedores de iscas vivas).
Mas não será um bate-papo qualquer, explica a bióloga Lucila Egydio, 42, coordenadora da expedição, e sim uma "prosa orientada".
TAREFA COMPLICADA
Conhecedores da reputação de desconfiados dos pantaneiros, o grupo
dispensará pranchetas, blocos e gravadores. O questionário preparado tem
de estar todo na cabeça de cada integrante do quarteto, que, em três
horas de prosa, precisa cobrir 16 tópicos distribuídos em quatro eixos:
consumo/produção, infraestrutura, ambiente e questões socioculturais.
Seu maior esforço será não acabarem confundidos com agentes da Polícia
Florestal, do Ibama ou da Funai. A ordem é iniciar a conversa
esclarecendo que não estão ali para fazer auditoria, mas para descobrir e
mostrar quem está fazendo a coisa certa.
Lalo de Almeida/Folhapress | ||
Integrantes da expedição em Miranda (MS); grupo vai percorrer 19 mil km em nove rotas |
"O foco aqui é a pecuária", admite a bióloga. Os dois Estados (MT e MS)
abrigam um quarto do rebanho bovino de mais de 200 milhões de cabeças no
país, e cerca de 75% dos bois mato-grossenses são criados no Pantanal.
O grupo viajará de olho em medidas ambientalmente responsáveis como
rotação de pastagens, convivência de pastos naturais com capins exóticos
(para melhorar produtividade) e curvas de nível (para prevenir a
erosão) --mas também registrará aspectos sanitários, educacionais e até
culturais, como a confecção de violas de cocho.
Embora menos danosa para o bioma, a pecuária extensiva tradicional no
Pantanal já é considerada economicamente insustentável, por ser pouco
produtiva. As fazendas vão sendo divididas e vendidas. No aperto para
melhorar de vida, proprietários derrubam os capões de mata e substituem
as gramíneas pantaneiras por exóticas.
AMEAÇAS
Cerca de 17% do Pantanal já foi desmatado. O restante sofre com as
ameaças de fora, como a agricultura intensiva de soja e cana no planalto
à volta, onde nascem seus rios. Com a perda de solos resultante, os
sedimentos se acumulam nos modorrentos rios da bacia do Paraguai, cada
vez mais assoreados.
A degradação é lenta, mas persistente. Já quase destruiu um rio, o
Taquari. A Expedição Pantanal quer investigar e difundir o que os
próprios pantaneiros já estão fazendo para impedir a generalização desse
desastre.
Os jornalistas Marcelo Leite e Lalo de Almeida viajaram a convite do Instituto Socioambiental da Bacia do Alto Paraguai/SOS Pantanal
FONTE: Folha.com/Ambiente
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