Cultura talayótica
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Cultura talayótica (ou talaiótica) é o nome que corresponde à sociedade que se desenvolveu por volta da Idade do ferro nas ilhas espanholas de Maiorca e Minorca, possuindo toda uma característica própria.
Inícios da Cultura talayótica
Suas origens nas Ilhas Gimnésias datam do final do segundo milênio antes da Era Cristã ou vulgar, quando a indevidamente nomeada cultura pré-talayótica entrou em crise e viveu sua consequente evolução. Seu nome procede dos "talayots", que são as construções mais emblemáticas e abundantes da pré-história balear.
Até os finais do século XX se considereva que esta sociedade havia surgido da interação de novos povos procedentes do Mediterrâneo
oriental com o povos originais das ilhas, quer como invasores, quer
como integração pacífica com as populações. As datas coincidiam com o
que se tem denominado como a crise dos Povos do Mar,
que revolucionou as sociedades deste extremo do Mediterrâneo desde o
século XIII a.C. Baseando-se principalmente nos restos arquitetônicos
que abundam em Maiorca e em Minorca, se estimou que os talayóticos eram
mais belicosos que os antigos povoadores, pois abundam as torres
"defensivas" (os talayots) e os povoados murados. Ademais, o talayots
apresentam muitas semelhanças com as nuragas da ilha da Sardenha, o que reforçava a teoria de sua possível procedência sarda.
As escavações encetadas entre o final do século XX e início do XXI
entretanto reportaram a cronologia dos talayots para os primórdios do
primeiro milênio a.C., o que desvincula sua construção dos
acontecimentos da crise dos Povos do Mar e das construções sardas. Além
disso, cada vez mais são encontradas provas de que a mudança entre a
Cultura pré-talayótica do final da Idade do Bronze
foi na verdade uma evolução ocorrida ao longo de vários séculos, e como
consequência de crise interna. Ainda assim, não se pode menosprezar a
possível influência de fatores externos, pois a existência da liga de bronze, que requer o estanho
(mineral inexistente nas baleares), indica que nunca deixaram de
existir contatos relativamente freqüentes desses povos com o mundo
exterior.
Os primeiros indícios da "futura" Cultura Talayótica se apresentam em
finais do segundo milênio a.C., quando a sociedade anterior se encontra
comprometida entre o crescimento populacional, a ineficiência de seus
recursos produtivos, e o território insular limitado. Em essência, o
conhecimentos de agricultura que havia trazido consigo os primeiros
habitantes, mais de um milênio antes, na Idade do Cobre,
se limitavam ao cultivo de roças: queimar os terrenos silvestres e
semear sobre as cinzas. Esta técnica provocara uma rápida deterioração
da terra fértil, e pode ter sido a principal causa para que, ao fim da
Idade do Bronze, passaram os habitantes a uma dieta quase que
exclusivamente de carne. A capacidade de produção de alimentos é menor
quando aumenta o território dedicado ao pasto, o que pode ter sido um
fator fundamental para a crise do modelo sócio-econômico existente ali e
que, depois de vários séculos, desembocou na Cultura Talayótica. Um dos
principais fatores que apontam para essa evolução interna, em lugar do
repovoamento exterior, é a continuidade evolutiva das formas cerâmicas
ao largo da transição entre as duas épocas.
As formas mais visíveis da nova formação social são na sua
arquitetura: em finais do segundo milênio começam a aparecer grandes
construções de pedra, algumas delas aproveitando e reciclando
construções anteriores (as chamadas habitações naviformes). Estas
construções monumentais só puderam ser feitas sob uma nova organização
social, fortemente hierarquizada e ordenada sob um comando central. A
família como unidade produtiva, própria da Idade do Bronze nas Baleares,
havia cedido espaço para a estruturação da produção baseada em
povoados, e ao surgimento de classes sociais.
A situação de crise no seio da sociedade insular, e a falta de uma
solução efetiva, ao menos até que reaparecesse a agricultura, levou a
uma radicalização da sociedade que provocou um crescimento exagerado das
construções de caráter ritual e de ostentação. A maioria dos
arqueólogos considera que, tanto os talayots como as muralhas dos
povoados, se bem possam cumprir uma função defensiva primária, não são
realmente eficazes, e sua construção responde, mais adequadamente, à
capacidade de levantar grandes construções. Além disso, a subsistência
desses habitantes, em ilhas dos tamanhos de Maiorca e Minorca implica na
necessidade de manutenção de relações fluidas entre as cidades, a fim
de que pudesse existir a troca sangüínea, e isto pode ser deduzido pela
uniformidade dos modos de fazer a cerâmica: o feitio de utensílios
cerâmicos e outros objetos eram atribuição feminina, e estas eram quem,
vendo-se obrigadas a se instalarem na cidade do seu companheiro,
transmitiam as técnicas e modos para os diversos povoados.
As investigações apontam que todos os talayots foram construídos
antes do século VIII a.C. Em contraponto os poucos dados relativos às
muralhas que rodeiam quase todos os povoados da Maiorca e alguns de
Minorca apontam que estas surgem a partir desse mesmo século. Tanto para
uma função defensiva quanto ornamental, seu surgimento denuncia que a
crise que havia desembocado na formação da sociedade talayótica foi uma
tentativa falsa de solução pela mudança de modelo social. De fato, um
dos fatores primordiais, que foi a dependência quase exclusiva do
pastoreio, continuava sem solucionar o problema e, enquanto isso não
ocorresse, a sociedade ver-se-ia submetida a fortes tensões entre o
crescimento da população e sua capacidade para explorar os limitados
recursos naturais.
Apesar de a sociedade da Idade do Ferro em Maiorca e Minorca ter
recebido a mesma denominação para ambas as ilhas, as semelhanças entre
elas não são tão profundas. Estes monumentos apresentam similitudes
suficientes para demonstrar que nunca deixou de haver contatos entre
ambas, mas suas diferenças apontam para que cada ilha enfrentou a crise
do seu modo. A seguir há uma descrição do que foi a Cultura Talayótica
em Maiorca e em Minorca, baseados principalmente em suas características
arquitetônicas, que são as que melhor se conservaram.
O Talayótico em Maiorca
Os primeiros grandes monumentos são os Túmulos Escalonados, de
caráter funerário. A data de sua construção deve rondar em torno de
1.000 a.C., e muitos deles estão associados a hipogeus de qualquer etapa da Idade do Bronze. A sociedade desta época poderia ser chamada, aleatoriamente, de proto-talayótica,
pois começam a apresentar muitos dos caracteres da futura organização
social, como o agrupamento, cada vez mais generalizado, em povoados. Em
alguns destes povoados se constatou também o "desmanche" das habitações
naviformes para reaproveitamento das pedras e construção das habitações
dos povoados talayóticos.
Após a mudança de milênio (início do primeiro milênio a.C.), começa a
proliferar os talayots da ilha, umas vezes isolados, formando marcos
territoriais, outras vezes nas extremidades e, sobretudo, agrupados
formando centros cerimoniais. Em Maiorca os centros cerimoniais são tão
abundantes como os povoados. Alguns deles consistem em grupos pequenos
de turriformes
(talayots, túmulos, etc.), dispersos pelo território, e freqüentemente
delimitando as fronteiras entre os povoados. Também existem centros
cerimoniais que consistem em alinhamentos de até sete torreados ao largo
de mais de meio quilômetro. A abundância desses centros ressalta a sua
importância: eram neles onde seguramente se resolviam as disputas
freqüentes e também onde deviam se celebrar as numerosas cerimônias
festivas onde, além de assinalar as datas significativas para o ciclo
econômico (semeaduras, colheitas, caçadas, etc.), os jovens de
diferentes povoados poderiam se conhecer para garantir a variedade
sangüínea.
Também existem os santuários, reconhecíveis porque suas duas esquinas
de trás são arredondadas. Os do interior dos povoados são pequenos, e
em seu interior só existe uma coluna, mais ou menos centrada. Os de fora
dos povoados são muito maiores (de 10 a 15 metros) e podem conter
vários pares de colunas.
Os monumentos funerários de Maiorca são variados, do mesmo modo que
no período anterior: os sepultamentos são feitos em covas naturais ou em
necrópoles de hipogeus. Os hipogeus talayóticos são muito maiores que
os da Idade do Bronze, às vezes com colunas talhadas na mesma rocha em
que foram escavados, e comumente se realizam a fim de ampliá-los. Também
se contruiu um grande cemitério cujas tumbas se assemelham a pequenos
talayots, tanto circulares quanto quadrados, e pequenas tumbas
naviformes. Apesar da predileção pelos enterramentos em hipogeus,
durante a Cultura Talayótica se introduziu uma novidade: o sepultamento
com cal.
[editar] O Talayótico em Minorca
A reorganização da sociedade em Minorca em torno de chefias e
povoados é similar à de Maiorca e, de fato, alguns dos povoados
minorquinos são muito mais extensos que os da outra ilha. Isto revela
que pode ter existido alguns estamentos sociais mais poderosos,
refletindo, quiçá, tensões sociais inda mais intensas do que na ilha
vizinha, ou anteriores do que naquela. A variedade de monumentos
(sobretudo dos talayots) construídos desde finais da Idade do Bronze, e
ao largo da Idade do Ferro supera, largamente, à de Maiorca.
A final do segundo milênio, aparecem as construções funerárias
naviformes. Construídas com técnicas talayóticas, mas herdeiras de uma
antiga tradição, que lhes proporciona muitas similitudes com os dólmens
(ou sepulcros megalíticos), quase um milênio mais antigos. Em todo
caso, as tradições funerárias também mantiveram sua variedade: se
conhecem sepulturas em naviformes, covas naturais e hipogeus.
A Taula
é, por excelência, o monumento cerimonial mais emblemático de Minorca.
Trata-se de um santuário cujo recinto tem a forma de ferradura, parecido
com os de Maiorca mas que, diverso daqueles, tem um grande monumento
central que se assemelha a uma mesa, que lhe dá o nome (taula é
mesa, em catalão). Se desconhece a cronologia destes santuários pois,
ainda que os recintos puderam existir ao largo de todo o Talayótico,
seus monumentos centrais podem pertencer a qualquer data ao largo do
primeiro milênio. Visita virtual al poblado talayotico de "Torre d'En Galmes"
Final do talayótico
Em meados do milênio, a crise que nunca solucionou os fatores que a
tinham originado, acabou por fim também com a cultura talayótica.
Deixaram de construir talayots, e muitos deles foram destruídos ou
reutilizados com fins diferentes aos originais.
A vizinha cidade púnica de Ebussus (atual Ibiza), ampliava sua influência e acabou por entrar em contato com as Gimnésias,
comercializando com elas em condições que, com frequê foram
qualificadas como colonização. O último quartel do milênio está marcado
pelo domínio do Mediterrâneo, em competição, por parte de Roma e Cartago, assim como pelas Guerras Púnicas,
que ocorreram entre as duas potências. As sociedades de Maiorca e
Minorca se viram encerradas nelas, já em sua plena proto-história, e
suas manisfetações passam a chamar-se pós-talayóticas.
FONTE: Wikipédia, a Enciclopédia Livre.
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