21/10/2011
-
09h45
Pesquisa flagra primeira caçada pré-histórica das Américas
RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
Uma ponta de lança incrustada em uma costela de mastodonte mostrou que
esse primo pré-histórico dos elefantes estava sendo caçado nas Américas,
a caminho da extinção, bem antes do que se imaginava.
Por muito tempo se pensou que os "paleoíndios" da chamada cultura Clovis
tinham sido os responsáveis por caçar e exterminar os grandes mamíferos
da Era do Gelo (conhecidos como megafauna) nas Américas. E isso teria
acontecido bem rapidamente.
Tanto que os antropólogos e arqueólogos usavam uma expressão germânica,
"blitzkrieg", a "guerra-relâmpago" da Segunda Guerra Mundial, para
descrever o processo.
Arte | ||
Mas a costela com a ponta de lança achada no sítio de Manis, no Estado
americano de Washington, perto da fronteira com o Canadá, foi agora
datada em quase 14 mil anos de idade.
Ou seja, é algo anterior à cultura Clovis, com início em cerca de 13 mil
anos atrás, caracterizada por pontas de lança de pedra com encaixes
especiais.
A ponta de lança estudada pelos pesquisadores era feita não de pedra,
mas de osso de outro pobre mastodonte, caçado e morto antes.
BEM ANTES
"A evidência do sítio de Manis mostra que as pessoas estavam caçando
mastodontes com armas de osso antes das pontas de lança de pedra de
Clovis", declarou o líder da equipe de oito pesquisadores dos EUA e da
Dinamarca, Michael Waters, do Centro para o Estudo dos Primeiros
Americanos, da Universidade do Texas A&M.
O fato de ser um osso incrustado em outro fez e ainda faz alguns
pesquisadores duvidarem da autenticidade do achado. Poderia ser um
acidente, dizem céticos. Mas essa é uma opinião rara.
O pré-histórico caçador que enfiou sua lança, um belo artefato com ponta
de 27 cm, deve ter xingado muito ao perdê-la -para sorte dos
arqueólogos, contudo.
As evidências mostram que ele teria enfiado a lança no lado esquerdo do
mastodonte, mas que, em vez de acertar algum órgão vital, acabou fazendo
a lança se alojar em um osso, com certeza deixando o animal violento e
alucinado.
Por sorte para a tribo, outros caçadores devem ter ferido o bicho em
lugares mais vitais, matando o mastodonte e recuperado a maioria de suas
armas.
Mas o animal de três toneladas caiu pelo lado esquerdo e com isso
impediu que a ponta de lança, que penetrou em torno de 20 cm ou 25 cm na
sua pele, pudesse ser recuperada. Isso até a década de 1970, quando uma
escavação encontrou o material.
Mas só agora que a equipe americana de Waters, junto com os
pesquisadores dinamarqueses envolvidos na descoberta original, foram
reavaliar os achados, e testá-los de modo moderno. Usaram testes de DNA
do osso e da ponta de lança, datações de carbono-14 (que funcionam como
relógio atômico de restos de seres vivos) e raio-X de alta resolução.
"É mais uma prova de que os seres humanos estavam presentes na América
do Norte bem antes do que se acreditava. A teoria 'Clovis em primeiro
lugar', que era tão adorada por muitos cientistas há poucos anos atrás,
foi finalmente enterrada com as conclusões desse estudo", diz o
pesquisador dinamarquês Eske Willerslev, da Universidade de Copenhague.
A descoberta está na edição desta semana da revista americana "Science".
FONTE: Folha.com/Ciência
Nenhum comentário:
Postar um comentário