24/10/2011
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10h36
Estudos mostram que evolução do homem está se acelerando
MARCO VARELLA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A medicina e os métodos de higiene salvam milhões de vidas e fazem com
que, para humanos, a frase "sobrevivência do mais forte", suposto pilar
da seleção natural, pareça coisa do passado. Evolução é coisa do passado
para nossa espécie, certo?
Não exatamente, revelam estudos recentes. Segundo seus autores, a
evolução humana pode ter até se acelerado a partir de 10 mil atrás,
quando as civilizações começaram a surgir e as populações começaram a
crescer rapidamente.
Editoria de Arte / Folhapress | ||
NÃO é PROGRESSO
Para entender isso, porém, é bom tirar alguns entulhos conceituais do caminho.
O primeiro deles: evolução não implica em progresso, nem é o mesmo que
seleção natural. Qualquer mudança, de uma geração para outra, seja
aleatória ou fruto de seleção, indica ocorrência de evolução.
A seleção natural ocorre quando as diferenças individuais em uma
característica, como altura, estão relacionadas ao número de
descendentes e são herdáveis. (Homens altos têm mais filhos do que os
baixos e passam a característica aos descendentes.)
Além disso, é bom riscar a tal "sobrevivência dos mais fortes" do seu
caderninho mental. Na verdade, a seleção não premia só a sobrevivência,
mas principalmente a reprodução.
Há uma excelente razão para achar que ainda estamos evoluindo, e talvez
em ritmo acelerado: mais matéria-prima e mais diversidade de ambientes,
diz o antropólogo John Hawks, da Universidade de Wisconsin em Madison.
A matéria-prima é o DNA, onde ocorrem as mutações potencialmente úteis
que a seleção natural submete a uma triagem. A matemática é simples:
quanto maior a população, maior a chance de que surja alguma mutação no
genoma que acabe melhorando as chances de reprodução de seu portador.
Quanto aos ambientes, transformações sociais, econômicas e de habitat
foram aceleradas nos últimos 10 mil anos, o que trouxe oportunidade para
que certas mutações conferissem vantagens.
ADAPTAÇÃO
Em seu estudo mais famoso, publicado na revista científica "PNAS", Hawks
diz ter achado sinais de seleção natural recente em 3.000 genes -10% do
genoma humano.
Em muitos casos, são coisas esperadas. As pessoas de hoje são mais
capazes de digerir leite (por causa da domesticação de animais
leiteiros) e de lidar com açúcar, amido e gordura, nutrientes que os
nossos ancestrais raramente encontravam.
Mas há coisas mais misteriosas nesse balaio de genes. "Dos cerca de cem
genes clássicos ligados aos neurotransmissores [mensageiros químicos
cerebrais], 40% exibem evidências de seleção recente. Muitos estão
relacionados a variações de humor. Será que não domesticamos a nós
mesmos para que conseguíssemos viver em comunidades altamente densas,
coisa que nunca tínhamos feito antes?", diz Robert Moyzis, da
Universidade da Califórnia, do grupo de Hawks.
ESTUDOS MÉDICOS
Há também uma série de características físicas com sinais de alterações em poucos séculos ou décadas.
Essa descoberta se tornou possível porque os pesquisadores estão
analisando bancos de dados epidemiológicos, recolhidos por médicos e
pelo governo, com os métodos da biologia evolutiva.
Ao associar características como altura, idade do primeiro filho que
chegou à vida adulta e idade do início da menopausa ao número de
descendentes, são observadas tendências evolutivas recentes. É o que
mostra uma compilação dessas pesquisas, coordenada por Stephen Stearns,
da Universidade Yale (EUA), na revista científica "Nature Reviews
Genetics".
A principal alteração destaca por Stearns é a ampliação da janela
reprodutiva feminina. Hoje, estão sobrevivendo mais filhos que nascem de
mães mais jovens e mais velhas. Isso seleciona mulheres um pouco mais
capazes de se reproduzir nesses dois extremos de idade.
Além disso, nunca houve homens tão altos. Isso tem a ver com a melhora
da alimentação, mas também com o diferencial reprodutivo trazido por ser
um sujeito alto.
FONTE: Folha.com/Ciência
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