Telescópios de € 1,2 bilhão entram em ação
SALVADOR NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quem poderia imaginar que o projeto mais caro da história da astronomia
em solo não seria para ver o espaço, mas para "escutá-lo"?
Reunindo EUA, Europa e Japão, o Alma, maior conjunto de radiotelescópios
já feito, começou a funcionar em configuração provisória.
Orçado em € 1,2 bilhão, o conjunto opera apenas com 16 antenas. Mas,
mesmo nessa escala, ele já é o mais potente de sua categoria.
Quando ficar pronto, por volta de 2014, o Alma terá 66 radiotelescópios,
distribuídos numa área de cerca de 7.000 m2, quase o tamanho de um
campo de futebol.
A disposição dos aparelhos é tal que, grosso modo, o conjunto equivale
um radiotelescópio gigante, com o tamanho da distância entre as duas
antenas mais afastadas.
Com isso, os pesquisadores esperam ver coisas jamais antes observadas no
Cosmos, como a formação de planetas em tempo real, que permitirá
estudar seu nascimento.
"O Alma irá investigar a região do espectro eletromagnético entre o
infravermelho e o rádio, uma parte até hoje muito pouco explorada. Com
isso, estamos literalmente abrindo uma nova janela para o Universo", diz
Wolfgang Wild, pesquisador do ESO (Observatório Europeu do Sul)
envolvido com o projeto.
ESO /Efe | ||
Conjunto de antenas no deserto do Atacama verá planetas em formação |
A área do projeto fica a 5.000 metros de altitude no deserto do Atacama
(Chile), onde a pressão atmosférica é metade da existente no nível do
mar. Graças a isso, há muito menos interferência do ar nas observações.
Em compensação, o ambiente é tão inóspito que não haveria como manter
pessoas durante longos períodos lá. Por isso, o centro de controle
ficará numa região mais baixa, a 2.900 m de altitude.
Além de poder trabalhar com o Alma por meio da entrada do Brasil no ESO
(decisão que ainda pende por aprovação no Congresso), pesquisadores
nacionais, em parceria com a Argentina, têm outras ideias ambiciosas
para a radioastronomia.
Eles estão tocando o projeto Llama, que consiste na instalação de uma
antena similar às que estão sendo usadas no Atacama a 200 km de
distância do Alma.
"Isso permitiria fazer experiências usando os dois ao mesmo tempo",
afirma Jacques Lépine, pesquisador do IAG (Instituto de Astronomia,
Geofísica e Ciências Atmosféricas) da USP que coordena o desenvolvimento
do Llama pelo lado brasileiro.
Além de operar junto com o Alma, o Llama poderia fazer observações
individuais. Lépine diz que há boa vontade mútua entre os dois esforços
para futura cooperação.
FONTE: Folha.com/Ciência
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