sexta-feira, 2 de setembro de 2011

ESPANHA PODE TER CEMITÉRIO-LABORATÓRIO PARA CORPOS CONGELADOS ( Artigo Científico )

30/08/2011 - 09h10

Espanha pode ter cemitério-laboratório para corpos congelados

DA BBC BRASIL
A Espanha pode abrigar o Cemitério-Laboratório Ibero-Americano de Criopreservação, onde corpos humanos seriam congelados na esperança de que a ciência descubra meios de ressuscitá-los.
O cemitério, que ainda não tem data para ser construído, será capaz de receber 500 corpos e custará R$ 100 milhões, segundo Francisco Roldán, diretor da recém-criada Associação Ibero-Americana de Criopreservação, entidade que reúne quase cem médicos.
BBC
Urna para congelamento de corpos humanos
Urna para congelamento de corpos humanos
Roldán, que não é médico, mas formado em ciências políticas, diz que a verba inicial será garantida por interessados de alto poder aquisitivo que não só desejam viver eternamente, como ainda esperam se beneficiar das descobertas científicas futuras para estarem sempre jovens.
"Ficção científica? Se quiserem chamar assim, pois que chamem. Milhares de anos atrás os homens sonhavam voar e não imaginavam que um dia o faríamos em um avião", disse Roldán à BBC Brasil.
"Hoje ressuscitar pode parecer a mesma utopia. Mas quem pode limitar os avanços da ciência?", completa.
O investimento, sem garantias, custa em torno de R$ 140 mil por cadáver. É o preço para se ter o corpo congelado sob uma temperatura de 196 graus abaixo de zero em um caixão de alta tecnologia industrial.
"UM SÉCULO"
A nova instituição está baseada em técnicas inventadas nos Estados Unidos E será aplicada pela primeira vez em outro país com a intenção de aglutinar cientistas, estudiosos e clientes da América Ibérica.
O cadáver é conservado em uma espécie de urna de aço com um gerador de nitrogênio líquido projetado pelo engenheiro da associação Alberto Sarmentero, que afirma ser "capaz de manter o corpo em bom estado durante aproximadamente um século".
Mesmo sem perspectivas de se ter alguma base científica que comprove que a ressurreição é viável, os quase cem integrantes da associação já tem tudo de que precisam para criar o futuro cemitério-laboratório.
Implantado na serra de Madri, o espaço contará com laboratórios de investigação científica, armazéns de materiais biotecnológicos, bancos de DNA, centro de conferências e um hospital para doentes em fase terminal.
"Com estas técnicas corremos contra o relógio. Assim que se constata a morte legal, o cérebro continua enviando impulsos elétricos durante uns instantes. E é durante esse tempo que aplicamos a vitrificação", explicou Roldán.
CRÍTICAS
O conceito de cemitério-laboratório, no entanto, não tem consenso entre os cientistas espanhóis.
"Não há um só indício de que esta ressurreição seja possível", afirmou à BBC Brasil o pesquisador Ramón Risco Delgado, chefe do Departamento de Criopreservação da Universidade de Sevilha.
"Em mais de 50 anos de tentativas, no máximo a ciência conseguiu reviver o rim de um coelho e o útero de um rato. Conservar um cadáver humano congelado com a esperança de ressuscitá-lo no futuro não tem sentido. É um engano absoluto", diz ele.
O doutor em Ciências Físicas e vencedor do Prêmio Nacional de Saúde da Espanha no ano 2000 foi dos poucos que conseguiu um mínimo resultado de ressurreição laboratorial de um Caenorhabditis elegans, um tipo de minhoca (nematódio) de um milímetro de comprimento que normalmente vive por apenas dez dias.
A Associação Ibero-Americana de Criopreservação, por sua vez, argumenta que os primeiros sinais das possibilidades de ressurgir já existem, e usam o exemplo dos óvulos humanos para fecundação.
Já o porta-voz da Comissão de Ética da Organização Médica Nacional disse à BBC Brasil: "Não se trata de impedir os avanços da ciência, nem de criar falsas expectativas. Mas de saber quais são os limites médicos, humanos e até divinos, se for o caso." 

FONTE: Folha.com/BBC Brasil

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