23/09/2011
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12h06
Mecha de cabelo pode desvendar mistério de imigração humana a partir da Austrália
DA BBC BRASIL
Uma mecha de cabelos ajudou uma equipe internacional de pesquisadores a
desvendar o genoma de aborígenes australianos e reescrever a história da
imigração dos humanos pelo mundo.
O DNA retirado dos cabelos doados por um jovem aborígene a um
antropólogo britânico em 1923 demonstrou que aborígenes australianos
foram o primeiro grupo a se separar de outros grupos humanos modernos,
há cerca de 70 mil anos. E isto desafia a teoria que afirma que houve
uma única fase de diáspora, vinda da África.
Enquanto as populações de aborígenes cruzavam a Ásia e a Austrália, o
restante dos humanos permaneceu na região do norte da África e no
Oriente Médio até 24 mil anos atrás, saindo apenas depois disto para
colonizar a Europa e Ásia.
Mas, os aborígenes tinham se estabelecido na Austrália há 25 mil anos e,
portanto, estavam há mais tempo no local onde vivem atualmente do que
qualquer outra população conhecida.
A pesquisa, publicada na revista Science, também destaca as novas
possibilidades de, no futuro, comparar os genomas de vários indivíduos
para rastrear a imigração de pequenos grupos.
DIFERENÇAS
Restos arqueológicos encontrados na Austrália tiveram a idade calculada
em cerca de 50 mil anos, o que determinava a idade máxima dos
assentamentos de aborígenes no continente.
Mas a história da jornada deste grupo e sua relação com povos da Ásia e Europa ainda não tinha sido desvendada.
Anteriormente se pensava que os grupos humanos modernos tinham se
dispersado em apenas uma onda a partir da África e do Oriente Médio e,
devido às distâncias envolvidas, os europeus modernos teriam se separado
dos asiáticos e dos australianos em primeiro lugar.
Mas, estas informações do DNA retiradas da mecha de cabelo aborígene
mostravam que os australianos iniciaram sua jornada bem antes.
Ao examinar as pequenas diferenças entre o DNA de aborígenes e de outros
humanos antigos, os cientistas mostraram que os indígenas australianos
ficaram isolados pela primeira vez há 70 mil anos.
François Balloux, do Imperial College de Londres e que participou da
pesquisa, descreveu como "uma população se expandiu pela costa devido à
fartura de recursos na região. Eles podiam andar quase pelo caminho
todo, pois o nível do mar era bem mais baixo". Apenas uma pequena viagem
pelo mar era necessária para alcançar a Austrália a partir da Ásia.
Mas, qualquer vestígio arqueológico desta jornada, que durou cerca de 25
mil anos, deve estar perdido no fundo do mar, devido ao aumento do
nível das águas.
PARQUE DOS DINOSSAUROS
Técnicas de análise de DNA como as que foram usadas neste estudo poderão
ser usadas de forma mais ampla para analisar as imigrações humanas.
A equipe internacional de cientistas agora planeja examinar mais
profundamente a imigração dos humanos modernos a partir da África além
de tentar descobrir como e quando as Américas foram colonizadas.
Balloux afirmou que está animado com o potencial desta técnica,
descrevendo-a como um tipo de ciência que é "quase (como a mostrada no
filme) Parque dos Dinossauros".
A pesquisa foi feita a partir de uma mecha de cabelo doada por um jovem aborígene a um antropólogo britânico em 1923.
Os pesquisadores decidiram examinar a mecha de cabelo e não outro tipo
de resto por razões legais, já que cabelo não é classificado como tecido
humano.
"O mais importante para nós que a pesquisa fosse aceitável de um ponto de vista social e moral", disse François Balloux.
Para surpresa dos cientistas, todos os consultados apoiaram a pesquisa.
Balloux afirmou que, no passado, grupos indígenas sempre foram
"extremamente sensíveis a respeito das motivações de cientistas
ocidentais" neste tipo de pesquisa.
Mas, o último estudo foi publicado com "forte apoio" do Conselho de
Terra e Mar de Goldfields, a organização que representa os proprietários
tradicionais de partes da Austrália ocidental, aborígenes.
FONTE: Folha.com/Ciência
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