01/09/2011
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08h26
Machados feitos de pedra têm 1,8 milhão de anos
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE CIÊNCIA E SAÚDE
EDITOR DE CIÊNCIA E SAÚDE
Os instrumentos de pedra que você vê abaixo são os mais antigos
exemplares de uma tecnologia avançada feita por mãos humanas --os
iPhones do Paleolítico Inferior, digamos. E a invenção deles acaba de
recuar quase 400 mil anos no tempo.
A conclusão está em artigo na revista "Nature" desta semana. A equipe
liderada por Christopher Lepre, da Universidade Columbia (EUA),
determinou que os "machados de mão" (como é conhecido esse tipo de
ferramenta) encontrados perto do lago Turkana, no Quênia, têm quase 1,8
milhão de anos.
A data bate à perfeição com a origem africana do Homo erectus, o primeiro ancestral da humanidade com cérebro avantajado (em torno de dois terços do tamanho do órgão em pessoas de hoje).
Pode ser, portanto, que os machados de mão sejam a assinatura
tecnológica das capacidades mentais ampliadas da linhagem humana nesse
período distante.
Os dados anteriores indicavam que a tecnologia dos machados só tinha
surgido há cerca de 1,4 milhão de anos, o que fazia menos sentido diante
da história evolutiva dos hominídeos na área.
Arte | ||
MISTÉRIOS
Ainda assim, alguns mistérios permanecem, a começar pela utilidade dos
instrumentos. Arqueólogos chegaram a criar suas próprias réplicas dos
machados e, em experimentos, mostraram que eles seriam ótimos para
cortar carne e abrir ossos de animais em busca do tutano, excelente
fonte de calorias.
No entanto, apesar da abundância de exemplares da tecnologia, há poucos
casos de marcas de uso efetivo das ferramentas. De quebra, a arte de
produzir machados de mão pouco mudou ao longo dos centenas de milhares
de anos em que foi praticada.
Para alguns pesquisadores, isso sugere que as ferramentas não eram
produzidas para propósitos práticos, mas serviam como uma exibição de
destreza para seus criadores --algo como uma cauda de pavão para
hominídeos, por assim dizer.
Seja como for, o certo é que, na própria região do lago Turkana, os
machados eram produzidos lado a lado com instrumentos mais toscos, os da
chamada cultura olduvaiense, que vão pouco além de seixos com uma
superfície cortante artificial.
Para Christopher Lepre e seus colegas, isso pode indicar que mais de uma
espécie de hominídeo, cada uma delas com sua própria tecnologia
característica, teria compartilhado as margens do lago queniano na
época.
A tecnologia dos machados depois se espalhou por todas as áreas do mundo
habitadas por hominídeos, chegando a locais tão distantes quanto Reino
Unido e China. No entanto, nos mais antigos registros da presença do Homo erectus fora da África, ela não está presente --fato que ainda precisa ser explicado.
FONTE: Folha.com/Ciência
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