15/09/2011
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15h03
Telescópio espacial Kepler descobre planeta com dois sóis
RAFAEL GARCIA
DE WASHINGTON
DE WASHINGTON
Um planeta com dois sóis é a descoberta mais nova do telescópio espacial
Kepler, da Nasa (agência espacial americana). Em um estudo publicado
nesta quinta-feira, cientistas mostram como é o novo astro, com tamanho
similar a Saturno.
O novo corpo celeste fica no sistema estelar batizado de Kepler-16, na
região da constelação da Lira. Suas duas estrelas mães têm tamanhos
diferentes; uma possui massa equivalente a 70% o tamanho do Sol e a
outra, menos brilhante e de espectro mais avermelhado, de 20%.
Science | ||
O novo astro com dois sóis, descoberto pelo telescópio espacial Kepler, tem um tamanho similar a Saturno |
Sistemas binários, como são conhecidos esses pares de estrelas, são
comuns na nossa galáxia e teóricos já havia postulado a possibilidade de
planetas orbitarem ao seu redor. Esta, porém, é a primeira vez que
astrônomos descrevem isso sem margem de dúvida.
A descoberta do novo planeta foi possível porque o telescópio Kepler
observa sua órbita de perfil, e é capaz de perceber a tênue queda de
luminosidade cada vez que o planeta eclipsa uma das duas estrelas.
JPL-Caltech/R. Hurt (SSC)/Nasa | ||
Os astrônomos estudaram a relação gravitacional entre os três objetos celestes ao mesmo tempo |
O planeta, porém, está longe demais para que os astrônomos consigam enxergar seu contorno diretamente.
Batizado de Kepler-16b, o planeta faz a luminosidade do sistema sofrer
uma queda de 1,7% durante o eclipse da estrela maior e de 0,1% durante o
eclipse da estrela menor.
O Kepler, que monitora mais de 150 mil estrelas na região, é o único
telescópio com sensibilidade suficiente para detectar variações tão
pequenas e capaz de acompanhá-las sem interrupções.
O novo planeta foi observado em todo o seu "ano" e cientistas
conseguiram determinar que o raio médio de sua órbita é de
aproximadamente 100 milhões de quilômetros, dois terços da distância
entre o Sol e a Terra.
Para confirmar a descoberta, porém, astrônomos precisaram encarar um
desafio bem mais complexo, pois não tiveram de estudar apenas a órbita
do novo planeta, que dura 229 dias.
As estrelas A e B também exercem força gravitacional entre si e mudam de
posição o tempo todo em relação ao centro do sistema. Isso fez com que
os períodos de órbita detectados pelos cientistas em um primeiro momento
variassem entre 221 dias e 230 dias, um dado difícil de interpretar.
DANÇA A TRÊS
A relação gravitacional entre três objetos celestes --desafio conhecido
pelos físicos como o "problema dos três corpos"-- ainda é um problema
para o qual não existe solução geral.
Quando se estudam apenas dois objetos interagindo no espaço, a exata
posição de cada um deles pode ser prevista no futuro simplesmente por
meio da medição de sua trajetória e aplicação de uma fórmula. A inclusão
de um terceiro corpo na equação, porém, torna tudo imprevisível.
"A atração gravitacional de cada estrela ao terceiro corpo varia com o
tempo em razão das mudanças de posição dos três corpos", escrevem os
cientistas em estudo na edição de hoje da revista "Science". O trabalho
foi coordenado pelo astrônomo Laurance Doyle, do Centro Carl Sagan para
Estudos da Vida no Universo.
Para lidar com o problema de medir a configuração orbital de um planeta
mais duas estrelas, os cientistas tiveram de criar uma simulação do
movimento dos astros. Usando um computador e um modelo matemático
complexo para prever o comportamento do sistema de maneira aproximada,
os pesquisadores conseguiram reproduzir a dança celeste em Kepler-16 com
grande precisão.
O cenário que inicialmente se apresentou como desafio aos cientistas,
afinal, acabou se apresentando como vantagem: um número maior de
interações gravitacionais permitiu aos pesquisadores calcular com grande
precisão a massa e o tamanho das estrelas, algo que nem sempre é
possível em sistemas binários sem planetas.
Os astrônomos, por fim, conseguiram determinar a massa do planeta como
sendo similar à de Saturno. Kepler-16b, porém, é um pouco mais denso,
sendo composto provavelmente metade de gás e metade de elementos em
forma sólida. (Saturno tem 2/3 de sua massa na forma de gás).
TATOOINE
Fãs da série de filmes "Guerra nas Estrelas" podem se perguntar se a
recente descoberta não seria uma encarnação de Tatooine, planeta
ficcional com dois sóis onde o personagem protagonista da série, Luke
Skywalker, cresceu.
Kepler-16b, porém, teria uma atmosfera muito mais espessa e escura do
que a de seu companheiro imaginário, e temperaturas gélidas que chegam a
-100 ºC. Provavelmente incapaz de abrigar vida e em nada parecido com o
deserto ensolarado de Tatooine.
FONTE: Folha.com/Ciência
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