Garimpeiro acha dente de elefante no sul da Amazônia
REINALDO JOSÉ LOPES
ENVIADO AO RIO
ENVIADO AO RIO
Um único dente achado por garimpeiros em Rondônia indica que a maior
floresta tropical do mundo também já foi o lar do maior mamífero
terrestre do planeta. A Amazônia de 45 mil anos atrás tinha elefantes,
sugere uma nova pesquisa.
Mario Cozzuol, paleontólogo da UFMG (Universidade Federal de Minas
Gerais), mostrou as estruturas em forma de lâmina no fragmento de molar,
que mede 12 cm. São reforços que ajudavam a estrutura dentária a
triturar alimentos muito abrasivos.
"Só elefantes e capivaras têm dentes com essa estrutura laminar, mas os
de capivara não passam de 5 cm. Se por acaso existiu uma capivara do
tamanho sugerido por esse dente, o fóssil é mais notícia ainda", brinca
ele.
Cozzuol e sua ex-aluna Ednair Rodrigues do Nascimento, da Unir
(Universidade Federal de Rondônia), apresentarão o achado no 7º Simpósio
Brasileiro de Paleontologia de Vertebrados, que acontece nesta semana
no Rio.
Se estiverem corretos, cai por terra a ideia de que havia uma espécie de
barreira impedindo a entrada de elefantes na América do Sul durante a
Era do Gelo.
Pedro Carrilho/Folhapress | ||
Dente de elefante que foi encontrado na Amazônia; descoberta revela que animal habitou a floresta no passado |
PARECE, MAS NÃO É
Até hoje, o Brasil só parecia ter abrigado mastodontes, feras de tromba
extintas que, embora se pareçam com elefantes, são parentes distantes
desses últimos. "Sabia-se que elefantídeos haviam chegado à Costa Rica,
mas não mais ao sul", diz Cozzuol.
A coisa ainda estaria nesse pé se não fosse por Chico da Pampa,
garimpeiro que, no começo dos anos 1990, doou o fóssil que achou em
Porto Velho a Miguel Sant'Anna, do Laboratório de Paleontologia da Unir.
Anos depois, Nascimento estava catalogando fósseis no laboratório quando
percebeu as estruturas laminares no dente. "Logo pensei em elefantes",
diz.
A análise confirmou a impressão, mas ainda não é possível saber a qual
espécie exata pertence o dente. Uma possibilidade é que se trate de um Mammuthus columbi. Seria um mamute, portanto?
"Prefiro não usar a palavra "mamute", porque as pessoas vão pensar num
bicho peludo, e não era o caso", diz Cozzuol. "O certo seria
classificá-los como Elephas [gênero do elefante-asiático]."
Para os cientistas, o achado é só uma amostra da diversidade oculta de
bichos da Amazônia pré-histórica. Essa fauna é desconhecida, em parte,
por falta de pesquisas.
Por outro lado, as próprias condições de obtenção dos fósseis não são
fáceis."Quase todo o material está tão fundo que só aparece quando se
escava para o garimpo de ouro", explica Cozzuol.
O próprio dente de elefante é prova disso: no arenito que ainda recobre
parte do fóssil, o paleontólogo aponta pequenos pontos brilhantes: são
grãos do metal precioso.
FONTE: Folha.com/Ciência
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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