Ciência
Paleontologia
Complexo turístico ameaça maior jazida de fósseis do Egito
Ambientalistas lamentam construção de hotéis com 12.000 quartos e estrada na região da reserva natural do Lago Qarun
Oásis de Fayoum: sarcófago datado de 931 a.C. - 725 a.C., encontrado durante escavações de 2009
(Amr Nabil/AP)
Um complexo turístico de proporções gigantescas ameaça a reserva
natural do Lago Qarun, no oásis de Al Fayoum, localizado ao sul do
Cairo, onde vivem milhares de aves e se encontram fósseis e jazidas
arqueológicas ainda não estudados.
Os ambientalistas, que defendem o turismo sustentável na região, veem
com suspeito o projeto depois que o governo do ex-presidente Hosni
Mubarak cedeu, em dezembro do ano passado, 2,8 quilômetros quadrados de
terreno junto ao lago à construtora Amre Group, ao custo de um centavo
de dólar por metro quadrado.
A chegada da revolução, a renúncia de Mubarak ao poder no último dia 11
de fevereiro e o encarceramento por enriquecimento ilícito e desvio de
fundos de dois dos ministros que assinaram o acordo - o de Turismo,
Zoheir Grana, e o da Habitação, Ahmed el Magrebi - lançaram uma nova
sombra de dúvida sobre o futuro do Lago Qarun. "Pode acontecer qualquer
coisa, há muita incerteza agora no Egito", afirmou a ativista da
organização Conservação da Natureza do Egito (CNE) Rebecca Porteous,
reconhecendo que a revolução "é uma janela aberta de possibilidades".
Rebecca lamentou ainda a construção de uma estrada que ligará o Cairo
ao lago Qarun e que, no futuro, permitirá o acesso ao gigantesco
complexo turístico no qual está prevista a construção de hotéis com um
total de 12.000 quartos e outros tantos chalés.
Antiguidades inexploradas — Os arredores do Lago Qarun
foram pouco explorados e escondem uma jazida com fósseis de até 40
milhões de anos de antiguidade, onde foram descobertos os restos do
macaco mais antigo do mundo, assim como o de elefantes, pássaros e
inclusive tubarões, golfinhos e cavalos-marinhos. Além disso, várias
espécies de pássaros vivem nos pantanais do lago, onde não é raro ver
flamingos, águias, falcões, cisnes e patos, além de aves
migratórias. Rebecca se mostrou preocupada com a fragilidade do
equilíbrio ambiental da região. "A área da qual estamos falando é tão
delicada que se um carro passar pelos pantanais, os destroçará",
garantiu.
Os ecologistas alertam para o estado de deterioração do lago, onde
desembocam águas e esgoto das cidades vizinhas, e denunciam a falta de
fundos do Ministério do Meio Ambiente para a proteção de áreas como a
floresta petrificada. "O Meio Ambiente destinou apenas 600 euros durante
três anos para uma área de 100 quilômetros quadrados", denunciou
Rebecca.
A ativista explicou que os guardas florestais da região tiveram que
arrecadar fundos para comprar estacas de madeira e cordas que permitiram
isolar a floresta petrificada. Para evitar a destruição do espaço, os
ativistas da CNE e guardas florestais propõem destinar a zona ao turismo
ecológico. O arquiteto Mohammed Abdel Khatib lamentou: "Al Fayoum não é
um lugar para o turismo de massas".
Ele trabalhou durante duas décadas com a administração egípcia para
elaborar um projeto de turismo sustentável na área. Para Rebecca, a
força de Al Fayoum reside em um tipo de turismo para visitantes que
apreciem a natureza e as antiguidades, não apenas as pirâmides e os
cruzeiros.
(Com agência Efe)
FONTE: Veja on line
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