VIENA
(Reuters) - O Irã aparentemente trabalhou no desenvolvimento de um
projeto para bombas atômicas, e talvez ainda realize pesquisas
relevantes para esse fim, disse a Agência Internacional de Energia
Atômica (AIEA, um órgão da ONU) em um devastador relatório a respeito do
programa nuclear iraniano, que deve gerar tensões no Oriente Médio.
Citando informações "críveis" de Estados membros e de
outras fontes, a AIEA listou uma série de atividades concernentes ao
desenvolvimento de armas nucleares, como testes com explosivos potentes e
o desenvolvimento de um detonador para bombas atômicas.
O aguardado relatório da AIEA, antecedido por
especulações na imprensa israelense sobre um possível ataque contra
instalações nucleares iranianas, detalhou novas evidências apontando
para um aparente esforço coordenado e sigiloso por parte de Teerã para
obter a capacidade de produzir bombas atômicas.
Algumas das atividades citadas no relatório podem ter
finalidades civis e nucleares, mas "outras são específicas para armas
nucleares", diz o relatório, obtido nesta terça-feira pela Reuters,
antes da reunião do conselho diretor da agência.
Teerã, que há anos nega estar desenvolvendo armas
atômicas, condenou imediatamente o relatório. O embaixador do país junto
à AIEA, Ali Asghar Soltanieh, o qualificou de "desequilibrado, não
profissional e politicamente motivado."
Os EUA e seus aliados devem usar o documento para
propor sanções mais duras contra o Irã, somando-se às quatro rodadas de
punições já impostas pela ONU ao país.
"Acho que os fatos constituem argumentos bastante
convincentes de que se tratava de um esforço bastante sofisticado para
(o desenvolvimento de) armas nucleares, voltado para miniaturizar uma
ogiva para um míssil balístico", disse de Washington à Reuters o
influente especialista em proliferação nuclear David Albright.
A Rússia criticou o relatório, dizendo que ele reduz a chance de diálogo com Teerã.
"Temos sérias dúvidas sobre a justificativa para passos
que revelem o conteúdo do relatório a um público amplo, primeiro porque
é precisamente agora que certas chances para a renovação do diálogo
entre o 'sexteto' de mediadores internacionais e Teerã começaram a
aparecer", disse a chancelaria russa em nota, referindo-se ao diálogo
envolvendo EUA, China, Rússia, França, Grã-Bretanha e Alemanha.
A nota acrescenta que é preciso esperar para estudar o
relatório e determinar se ele contém novas evidências acerca de um
caráter militar no programa nuclear iraniano, ou se apenas repete "o
açoite intencional -- e contraproducente -- das emoções."
As acusações da AIEA se baseiam principalmente em
informações de serviços ocidentais de inteligência, as quais o Irã há
anos qualifica como inventadas e infundadas. Mais recentemente, Teerã
passou a atacar o diretor-geral da AIEA, Yukia Amano, acusando-o de ser
manipulado por Washington.
"SÉRIAS PREOCUPAÇÕES"
A AIEA diz ter avaliado cuidadosamente as informações
fornecidas por Estados membros, considerando-as consistentes com o
conteúdo técnico, os indivíduos, as organizações e as datas que foram
citados. A agência diz também ter apurado seus próprios detalhes.
"A agência tem sérias preocupações relacionadas às
possíveis dimensões militares do programa nuclear do Irã", disse a AIEA
no relatório, que incluiu um raro anexo de 13 páginas com descrições
técnicas das pesquisas com explosivos e simulações por computador
aplicáveis a detonações nucleares.
A agência, com sede em Viena, disse que os dados
"indicam que o Irã realizou atividades relevantes para o desenvolvimento
de um dispositivo explosivo nuclear." E acrescenta: "A informação
também indica que antes do final de 2003 essas atividades ocorriam sob
um programa estruturado, e que algumas atividades ainda podem estar em
andamento."
O relatório da AIEA inclui informações anteriores e
posteriores a 2003. Ele manifesta uma "particular preocupação" com
informações dadas por dois Estados membros de que o Irã teria realizado
em 2008 e 2009 estudos com modelos informatizados relevantes para o
desenvolvimento de armas.
"A aplicação de tais estudos para qualquer coisa além
de um explosivo nuclear não está clara para a agência", afirmou a AIEA.
As informações também indicam que o Irã construiu um
grande tanque para explosivos no seu complexo militar de Parchin, a
sudeste do Irã, onde conduziu experiências hidrodinâmicas que são
"fortes indicadores do possível desenvolvimento de armas."
O Irã, quinto maior exportador mundial de petróleo,
insiste que o seu programa nuclear se destina a desenvolver uma rede de
usinas atômicas que gere eletricidade para o consumo interno, liberando o
país para exportar mais gás e petróleo.
Mas o histórico do país em ocultar atividades nucleares
estratégicas da AIEA, as restrições ainda em vigor à presença de
inspetores da agência, e sua recusa em suspender as atividades de
enriquecimento de urânio -- processo que pode resultar em combustível
para armas atômicas -- reforçam as suspeitas ocidentais e justificaram
as quatro rodadas de sanções da ONU, além de medidas unilaterais por
parte dos EUA e da União Europeia.
(Reportagem adicional de Dan Williams, em Jerusalém; de
Arshad Mohammed, em Washington; de Steve Gutterman, em Moscou; e da
redação de Teerã)
FONTE: Yahoo Notícias
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