04/11/2011
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12h03
Um em cada cinco estudos médicos tem autor indevido
SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
Um em cada cinco artigos científicos das principais revistas médicas do
mundo tem problemas de autoria. O dado é de um estudo da Associação
Médica Americana que analisou seis periódicos de prestígio: "Annals of
Internal Medicine", "Jama", "Lancet", "Nature Medicine", "New England
Journal of Medicine" e "PLoS Medicine".
Foram encontrados casos de autores "fantasma" (que participaram do
trabalho, mas não são citados) ou indevidos (que assinam a pesquisa sem
ter contribuído). Essas práticas são condenadas pela ética científica.
Manuais recentes das principais agências de financiamento à ciência do
mundo determinam que deve ser autor ou coautor de artigos quem
contribuiu significativamente para o trabalho.
"O fato de um indivíduo ter usado um laboratório que você coordena para
fazer um experimento não quer dizer que você será coautor do trabalho
dele", exemplifica Mário José Abdalla Saad, diretor da Faculdade de
Ciências Médicas da Unicamp.
Para ele, embora existam normas claras para identificar autores e
coautores das pesquisas, ainda há uma espécie de "zona cinzenta". "Uma
pessoa pode ter participado de maneira 'braçal' de uma pesquisa de modo
decisivo. É preciso ter bom-senso para definir a autoria." Já para
Gilson Volpato, da Unesp (Universidade Estadual Paulista), é preciso
refletir sobre o significado de ser autor de um trabalho.
"Há um costume de se colocar como autores cientistas que tiveram
qualquer participação no trabalho sem pensar o que significa ser autor."
Editoria de Arte /Folhapress | ||
METODOLOGIA
O levantamento dos dados da Associação Médica Americana foi feito por um
questionário respondido por e-mail por 630 autores principais de
trabalhos publicados em 2008 nas principais revistas médicas do mundo.
Os cientistas responderam a 30 questões sobre a definição dos autores
dos estudos dos quais participaram. No resultado, 21% dos trabalhos
apresentaram autoria indevida. A porcentagem é menor que em 1996, quando
os autores inapropriados apareciam em 29% dos artigos científicos na
área médica.
Mas, para os autores, os números continuam altos. O estudo está
publicado no "British Medical Journal". De acordo com Saad, da Unicamp, a
autoria indevida é um problema, por exemplo, no processo seletivo de um
pesquisador em uma universidade ou instituição de pesquisa. Isso porque
os artigos contam pontos na seleção.
"Mas é preciso lembrar que critérios como entrevista e prova também são
levados em conta", afirma. Para ele, os conflitos de interesse das
pesquisas financiadas pela indústria farmacêutica, por exemplo, envolvem
questões éticas ainda mais preocupantes.
"Outra questão que deve ser destacada é o plágio. O pior tipo de fraude é
copiar reproduzir ideias sem mencionar a fonte", analisa Saad. O
biólogo Marcelo Hermes-Lima, da UnB (Universidade de Brasília), lembra
ainda que fraudar dados nas pesquisas médicas é algo gravíssimo, pois
afeta diretamente a vida das pessoas.
Ele destaca uma pesquisa publicada em maio no "Journal of Medical
Ethics", que mostrou que 188 artigos retratados com fraude na área
médica envolveram 17.783 pessoas -e receberam mais de 5.000 citações de
outros cientistas, que deram continuidade às pesquisas.
FONTE: Folha.com/Ciência
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