O que aconteceria se uma bomba nuclear caísse em São Paulo?
por Artur Louback Lopes
O primeiro passo para começarmos a especular
sobre os efeitos de uma bomba atômica é definir a potência desse
"brinquedinho". A Little Boy, que arrasou Hiroshima em 1945, tinha cerca
de 15 quilotons, o equivalente a 15 mil toneladas de dinamite. Muito?
"As bombas lançadas em Hiroshima e Nagasaki são estalinhos se comparadas
às que existem hoje", diz o físico Roberto Vicente, do Instituto de
Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). Com o surgimento das bombas de
hidrogênio, a potência dos artefatos foi multiplicada muitas vezes,
chegando próximo dos 50 megatons (50 milhões de toneladas de dinamite).
Como modelo, usaremos uma potência de 1 megaton, que é a capacidade da
maioria das ogivas que integram o arsenal americano. Apesar de muito
mais potente que a bomba lançada no Japão, ela é muito menor (45 quilos
contra 4 toneladas da Little Boy) e pode ser lançada acoplada a um
míssil balístico, atirado de uma base a centenas de quilômetros do alvo.
É muito pouco provável que alguém queira atacar a cidade de São Paulo,
mas como existem cerca de 30 mil bombas espalhadas pelo mundo, o risco
da catástrofe não pode ser 100% descartado.
Metrópole em chamas
Veja o estrago de uma bomba 70 vezes mais potente que a de Hiroshima atirada sobre a praça da Sé
NÍVEL 1 - Epicentro
Em Hiroshima, 89% das pessoas que estavam no local da explosão morreram na hora. Na praça da
Sé, o epicentro do nosso ataque virtual, dificilmente alguém escaparia
com vida. Se a bomba atingisse o solo (a de Hiroshima explodiu a 580
metros de altura e não formou cratera), ela abriria uma cratera de 300
metros de diâmetro e 61 metros de profundidade
NÍVEL 2 - Raio de 960 m
Nesta área dificilmente algum prédio ficaria de pé - construções
históricas como o Teatro Municipal e o Pátio do Colégio desabariam,
assim como a atual sede da prefeitura. A bola de fogo, com temperatura
semelhante à do Sol, faria com que pessoas e objetos próximos a ela se
desmaterializassem, ou seja, simplesmente evaporariam
NÍVEL 3 - Raio de 3,3 km
A onda de pressão gerada pela explosão derrubaria a maioria dos
prédios desta área. A avenida Paulista, onde estão instalados edifícios
de hospitais e grandes empresas, viraria um amontoado de destroços.
Segundo o IBGE, 414,3 mil pessoas vivem nesta região. A radiação, somada à temperatura altíssima e aos fortes ventos carregados de destroços, mataria cerca de 98% destas pessoas
NÍVEL 4 - Raio de 6,9 km
Nesta área os ventos ainda teriam velocidade semelhante à do furacão
Katrina (cerca de 250 km/h), que varreu o sul dos Estados Unidos em
agosto do ano passado. Casas desabariam e os prédios que ficassem em pé
certamente sofreriam danos. Este círculo demarca a chamada área letal,
dentro da qual o número de sobreviventes é semelhante ao de mortos
NÍVEL 5 - Raio de 15,28 km
Ventos de cerca de 65 km/h são incapazes de danificar prédios
maiores, mas casas podem sofrer avarias. Cerca de um terço das pessoas
nesta região poderiam ficar feridas. São Paulo certamente sofreria mais
do que cidades acostumadas a ser atingidas por terremotos e furacões,
como a própria Hiroshima atualmente, cujos prédios contam com estruturas
mais robustas
Radiação
A radiação
lançada pela bomba causa morte celular e mutações. Seu alcance varia de
acordo com a direção e a velocidade do vento, além do local da explosão
(no chão ou no ar). Para se ter uma idéia, uma simulação realizada pela
Federação dos Cientistas Americanos, com ventos de 24 km/h e uma bomba
de 1 megaton, indicou que 50% das pessoas localizadas a até cerca de 16
quilômetros morreriam em 96 horas e, cada vez mais perto do epicentro,
esse percentual seria maior. "Mesmo que a pessoa não morra nos primeiros
seis meses após a exposição, ela pode vir a morrer de câncer resultante
da mutação após algumas dezenas de anos", diz a física Emico Okuno, do
Instituto de Física da USP
FONTE: Revista Mundo Estranho
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