07/11/2011
-
09h06
Novos estudos reforçam consenso de que Terra está mais quente
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE CIÊNCIA E SAÚDE
EDITOR DE CIÊNCIA E SAÚDE
Duas pesquisas recentes reafirmam o consenso científico em torno da
realidade do aquecimento global, embora também mostrem as incertezas do
fenômeno.
A primeira, coordenada pelo físico Richard Muller, da Universidade da
Califórnia em Berkeley, foi divulgado numa conferência nos EUA e aguarda
para ser publicado.
Arte/Folhapress | ||
Mas já ganhou relevância porque, até o mês passado, Muller era um cético
do clima. Para ele, os dados usados para mostrar que o planeta está
aquecendo não eram confiáveis.
Decidido a colocar o consenso climático à prova, Muller organizou um
estudo, o Best (sigla inglesa de "projeto Berkeley sobre a Temperatura
da Superfície Terrestre").
A pesquisa recebeu parte de seu financiamento da fundação Charles Koch,
ligada à indústria do petróleo e responsável por bancar outros céticos
climáticos e políticos conservadores nos EUA.
Em artigo no "Wall Street Journal", um dos poucos grandes jornais em que
a comunidade de céticos climáticos ainda tem voz, Muller explica o
porquê de suas dúvidas iniciais sobre o aquecimento global: dados
porcos.
O xis do problema são as estações meteorológicas, principais
responsáveis por recolher dados de temperatura e criar uma série
histórica capaz de dizer se, afinal, o planeta está mais quente.
Seguindo os dados obtidos por essas estações, o IPCC, painel do clima da
ONU, estima que a temperatura média da Terra subiu 0,64 grau Celsius
nos últimos 50 anos.
Só que há um problema, escreve Muller: 70% dessas estações nos EUA possuem uma margem de erro superior a essa variação.
Além disso, grande parte das medições de temperatura é feita em áreas urbanas, que ficaram mais quentes com asfalto, calçadas e concentração de prédios.
Além disso, grande parte das medições de temperatura é feita em áreas urbanas, que ficaram mais quentes com asfalto, calçadas e concentração de prédios.
Muller explica que a equipe do estudo Best usou uma série de controles
experimentais para contornar esses vieses. Primeiro, eles usaram uma
massa maior de registros do que as pesquisas tradicionais sobre o tema.
Resultado: de quase 40 mil estações medidoras de temperatura mundo afora, dois terços mostraram sinais de aquecimento.
Além disso, eles trabalharam com dados de satélite para levantar as
tendências de temperatura apenas nas estações de medição em áreas
rurais, e não houve diferença em relação às mais urbanas.
E a magnitude do aquecimento é comparável tanto nas estações de boa qualidade quanto nas que trazem dados mais incertos.
"Embora as estações de baixa qualidade tragam temperaturas incorretas,
elas ainda assim seguem as mudanças de temperatura", afirma.
INCERTEZAS
Muller e colegas, porém, não investigaram as causas do aquecimento nem o
que acontecerá daqui para a frente. Nesse último ponto, uma pesquisa
publicada recentemente na revista científica "Journal of Geophysical
Research" mostra que os cientistas ainda terão muito trabalho pela
frente.
Julia Crook e Piers Forster, da Universidade de Leeds (Reino Unido),
fizeram uma análise detalhada dos modelos climáticos, as simulações por
computador que servem para prever o futuro do clima.
O jeito tradicional de verificar se esses modelos são úteis é tentar ver
se eles reproduzem o que ocorreu com o clima no século 20.
Eles conseguem isso, dizem os pesquisadores, mas de um jeito que não
depende da força dos feedbacks positivos do clima, ou seja, da maneira
como mudanças atuais amplificam o aquecimento futuro. Por exemplo:
derreter gelo no Ártico torna a região mais escura. Com isso, ela
absorve mais luz solar e esquenta ainda mais.
Por causa disso, é provável que nenhum modelo atual seja capaz de capturar como será o clima do futuro.
FONTE: Folha.com/Ambiente
Nenhum comentário:
Postar um comentário