31/10/2011
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14h17
Vinhos enterrados com Tutancâmon serviam para levá-lo aos deuses
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE CIÊNCIA E SAÚDE
EDITOR DE CIÊNCIA E SAÚDE
O rei-menino mais famoso da Antiguidade fez questão de levar consigo
três tipos de vinho --dois tintos e um branco-- quando partiu desta para
uma melhor. O enigma, até agora, era o porquê disso.
Uma farmacêutica catalã, com alma de arqueóloga e paixão pelo antigo
Egito, diz ter resolvido o mistério. Tutancâmon (1333 a.C.-1323 a.C.)
teria escolhido uma adega mística, e as seletas bebidas permitiriam que
ele realizasse o destino de todo bom faraó: unir-se aos deuses.
Editoria de Arte / Folhapress | ||
Maria Rosa Guasch Jané, 38, nascida em Barcelona e hoje pesquisadora da
Universidade Nova de Lisboa, publicou sua engenhosa tese na revista
científica "Antiquity". Guasch Jané e seus colegas tinham sido os
responsáveis por identificar os vinhos do faraó em pesquisas anteriores.
A pista usada pela equipe foi a presença residual de ácido siríngico, um
derivado da malvidina, substância exclusiva de uvas vermelhas, em duas
ânforas (jarros).
A posição das ânforas, contudo, ainda deixava a pesquisadora com a pulga
atrás da orelha (leia mais no infográfico). Colocadas dentro da câmara
mortuária propriamente dita, elas foram posicionadas ao leste, ao oeste e
ao sul do sarcófago. "Não havia nenhuma no norte", lembra ela.
"Os egípcios tinham rituais muito complexos para permitir a ida ao Além,
e me pareceu que esses três vinhos poderiam ter esse propósito, por
estarem tão perto do faraó defunto", afirma.
Durante o reinado de Tutancâmon, a teologia egípcia fundiu o deus solar
Ra com Osíris, divindade dos mortos e da ressurreição. O faraó era
considerado divino já em vida. Mas, para conseguir ressuscitar após a
morte, ele tinha de incorporar Osíris.
Para Guasch Jané, essa é a chave do mistério. Os vinhos do leste e do
oeste (respectivamente um branco e um tinto) simbolizam o trajeto do
deus-Sol Ra pelo céu: vermelho-escuro no poente e claro ao amanhecer.
Mais importante ainda é a bebida do sul. Em egípcio, ela é designada por
uma palavra especial, "shedeh", que não é o mesmo termo usado para um
vinho comum ("irep") e designa uma bebida muito apreciada e refinada.
Textos egípcios mencionam que o "shedeh" era filtrado e aquecido. "É
algo que se vê ainda hoje em vinhos para usos religiosos, como no
judaísmo", diz Alexandra Corvo, da escola Ciclo das Vinhas. Segundo ela,
o processo deixaria o vinho com menos álcool e mais adocicado.
Pois bem: era a partir da região sul do céu que, segundo a mitologia
egípcia, o faraó, unido a Osíris, navegava antes da aurora. Se a
interpretação estiver certa, o "shedeh" estava ali para fortalecer o rei
na parte mais importante de sua jornada para se unir aos deuses do
Egito.
FONTE: Folha.com/Ciência
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