22/08/2011
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10h19
'Nature' discute droga que apaga memória
SALVADOR NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Até outro dia, elas eram ficção científica: drogas capazes de apagar a
memória, como no filme estrelado por Jim Carrey, "Brilho Eterno de uma
Mente sem Lembranças" (2004). Mas o assunto já ganha as páginas da
"Nature".
No cinema, um coração partido faz com que o personagem vivido por Carrey queira apagar a sua ex-mulher da memória.
Na realidade, com a criação de substâncias capazes de manipular até
lembranças antigas no cérebro, surge um movimento em favor desses
medicamentos --ao menos para casos especiais.
"Dada a conexão entre a memória e o senso de si mesmo, alguns
bioeticistas argumentam que, em vez de buscar uma solução numa pílula,
deveríamos fazer o trabalho difícil, de transformar más experiências em
coisas boas", diz Adam Kolber, da Escola de Direito do Brooklyn, em Nova
York, em seu artigo publicado na "Nature".
"Esses argumentos não são persuasivos. Algumas lembranças, como a de
bombeiros que vasculham cenas de destruição em massa, podem não ter
nenhuma qualidade que as redima", retruca.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Kolber argumenta que essas drogas podem ser a diferença entre uma vida
saudável e um tormento eterno para quem sofre de estresse
pós-traumático, por exemplo.
Um consenso quase unânime na discussão é que pesquisas nessa direção
devem continuar, porque é por meio delas que os cientistas estão
destravando os enigmas em torno da formação e do funcionamento das
memórias.
"O propósito dos nossos experimentos era tentar entender a base
molecular do armazenamento de lembranças, que antes disso era um
mistério científico completo", afirma Todd Sacktor, líder do grupo de
pesquisadores da Universidade Estadual de Nova York que, em 2009,
descobriu uma droga capaz de apagar memórias específicas no cérebro de
camundongos.
A defesa de Sacktor é acompanhada pelos bioeticistas. "A busca do
conhecimento, se eticamente desenvolvida, deve ser estimulada", diz
Volnei Garrafa, especialista em bioética da UnB (Universidade de
Brasília).
"Mas a aplicação prática do conhecimento conquistado pela pesquisa deve
ser controlada pelas leis, por comitês de ética e bioética, pelo Estado e
pela sociedade."
Em seu artigo na "Nature", Kolber sustenta que esses mecanismos de
controle já existem, e que incluir muitas barreiras ao uso desses
medicamentos pode acabar sabotando seu potencial médico.
"Todas as drogas apresentam risco de uso inadequado. Uma droga desse
tipo presumivelmente seria controlada e exigiria uma prescrição médica",
conclui Kolber.
FONTE: Folha.com/Equilíbrio e Saúde
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