09/05/2011
-
15h40
Brasileiro ensina povos da Amazônia a usar GPS e fazer mapas
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE CIÊNCIA
EDITOR DE CIÊNCIA
Por promover a união improvável entre o conhecimento tradicional de
grupos amazônicos e as modernas técnicas de mapeamento por satélite, um
antropólogo brasileiro acaba de receber um prêmio de US$ 100 mil da
Fundação Ford, sediada nos EUA.
"Muita gente acha que a Amazônia é um caos fundiário, mas não é bem assim", disse à Folha
Alfredo Wagner Berno de Almeida, pesquisador da Ufam (Universidade
Federal do Amazonas). "A verdade é que essas comunidades organizam muito
bem seu território. E os mapas que ajudamos a editar expressam essa
racionalidade."
Esse é basicamente o trabalho que levou à láurea concedida a Almeida e seus colegas: editar mapas.
Divulgação |
"Muita gente acha que a Amazônia é um caos fundiário, mas não é assim", diz Alfredo Wagner Berno de Almeida, da Ufam |
O projeto do grupo, batizado de "Nova Cartografia Social da Amazônia",
ensina indígenas, quilombolas e outros grupos tradicionais a empregar o
GPS e técnicas modernas de georreferenciamento para produzir mapas
artesanais, mas bastante precisos, de suas próprias terras.
Desde o lançamento, em 2005, cerca de 120 fascículos desse mapeamento já
foram publicados (alguns com comunidades tradicionais de outras regiões
do Brasil).
A intenção dos pesquisadores é entender como esses grupos usam seu
espaço e organizam, em alguns casos há milênios, o uso dos preciosos
recursos naturais da região.
Os mapas também ajudam a entender como essas identidades colidem com a
urbanização e a expansão da fronteira agrícola na Amazônia, e a auxiliar
as comunidades a demonstrar os direitos sobre seu território
tradicional.
"Existe hoje uma pressão grande para a formalização do mercado de terras
na Amazônia. A regularização é fundamental, mas às vezes não leva em
consideração esses povos tradicionais", diz o antropólogo, nascido em
Minas Gerais e com doutorado no Museu Nacional Universidade Federal do
Rio de Janeiro.
Nesse trabalho, o grupo de mais de 70 pesquisadores, entre antropólogos,
economistas, biólogos e agrônomos, também pode constatar como essas
identidades estão se transformando.
Uma das situações emergentes são os índios urbanos --36 mil deles só na
capital amazonense. Sintomático desse fato é que o grupo tenha ajudado
na demarcação da terra indígena do município de Rio Preto da Eva (AM)
--uma terra indígena urbana.
A equipe já era apoiada pela Fundação Ford. O prêmio desta semana
integra o "Visionaries Award" (Prêmio Visionários), dado a "12
inovadores sociais cuja visão extraordinária e trabalho corajoso estão
melhorando a vida de milhões de pessoas", diz a fundação em comunicado.
Para Almeida, é importante reconhecer o sucesso dessas comunidades como modelos de gestão responsável dos recursos naturais.
Muitos céticos dizem que esse uso sustentável teria mais a ver com falta
de alternativas econômicas, e que essas pessoas não hesitariam em
deixar seu modo de vida ancestral se tivessem acesso a hospitais,
educação e lazer urbanos. Ele discorda.
"Percebemos que muitas dessas pessoas preferem uma vida com menos
conforto material mas com uma rede de proteção social forte, e com
autonomia sobre suas vidas, em vez de simplesmente decidirem virar
assalariados."
FONTE: Folha.com/Ambiente
Nenhum comentário:
Postar um comentário