23/05/2011
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09h59
Tribo amazônica desconhece conceito de tempo, diz estudo
DA BBC NEWS
Pesquisadores brasileiros e britânicos identificaram uma tribo amazônica
que, segundo eles, não tem noção do conceito abstrato de tempo.
Chamada Amondawa, a tribo não possui as estruturas linguísticas que
relacionam tempo e espaço --como, por exemplo, na tradicional ideia de
"no ano que vem".
O estudo feito com os Amondawa, chamado "Língua e Cognição", mostra que,
ainda que a tribo entenda que os eventos ocorrem ao longo do tempo,
este não existe como um conceito separado.
A ideia é polêmica, e futuras pesquisas tentarão identificar se isso se repete em outras línguas faladas na Amazônia.
Vera Silva Sinha | ||
Tribo amazônica que desconhece conceito de tempo, os Amondawas mudam de nome conforme a idade avança |
O primeiro contato dos Amondawa com o mundo externo ocorreu em 1986, e,
agora, pesquisadores da Universidade de Portsmouth (Reino Unido) e da
Universidade Federal de Roraima começaram a analisar a ideia de tempo da
forma como ela aparece no idioma falado pela tribo.
"Não estamos dizendo que eles são 'pessoas sem tempo' ou 'fora do
tempo'", explicou o professor de psicologia da língua na Universidade de
Portsmouth, Chris Sinha.
"O povo Amondawa, como qualquer outro, pode falar sobre eventos e
sequências de eventos", disse ele à BBC. "O que não encontramos foi a
noção de tempo como sendo independente dos eventos que estão ocorrendo.
Eles não percebem o tempo como algo em que os eventos ocorrem."
Tanto que a tribo não tem uma palavra equivalente a "tempo", nem mesmo para descrever períodos como "mês" ou "ano".
As pessoas da tribo não se referem a suas idades --em vez disso, assumem
diferentes nomes em diferentes estágios da vida, à medida que assumem
novos status dentro de sua comunidade.
Mas talvez o mais surpreendente seja a sugestão dos pesquisadores de que
não há interconexão entre os conceitos de passagem do tempo e movimento
pelo espaço.
Ideias como um evento que "passou" ou que "está muito à frente" de outro
são comuns em muitas línguas, mas tais construções linguísticas não
existem entre os Amondawa.
"Isso não significa que (as construções) estão além das capacidades
cognitivas da tribo", prosseguiu Sinha. "Apenas não são usadas no seu
dia-a-dia."
Quando os Amondawa aprenderam português, que está se tornando mais comum
entre eles, eles facilmente incorporam a noção do tempo em sua
linguagem.
A hipótese dos pesquisadores é de que a ausência do conceito de tempo se
origina da ausência da "tecnologia do tempo" --por exemplo, sistemas de
calendário e relógios.
Isso, por sua vez, pode estar relacionado ao fato de que, como muitas
tribos, o sistema numérico detalhado dos Amondawa é limitado.
TERMOS ABSOLUTOS
Tais argumentos não convencem Pierre Pica, linguista teórico do CNRS
(Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica), que foca seus estudos
em uma outra língua amazônica, conhecida como Mundurucu.
"Relacionar número, tempo e espaço por uma simples ligação causal parece
sem sentido, com base na diversidade linguística que conheço", disse
ele à BBC News.
Pica diz que o estudo sobre os Amondawa "tem dados muito interessantes", mas argumentos simplificados.
Sociedades pequenas como os Amondawa tendem a usar termos absolutos para
relações espaciais normais --por exemplo, referir-se à localização
específica de um rio que todos na comunidade conhecem bem, em vez de
usar uma palavra genérica para rios.
Em outras palavras, enquanto os Amomdawa podem ver a si mesmos se
movendo através de arranjos temporais e espaciais, seu idioma talvez não
reflita isso de uma maneira óbvia.
Novos estudos devem aprofundar o conhecimento sobre o assunto, diz Sinha.
"Queremos voltar (à tribo) e verificar (a teoria) novamente antes que a
língua desapareça --antes que a maioria da população comece a aprender
desde cedo a usar sistemas de calendário."
FONTE: Folha.com/BBC Brasil
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