23/05/2011
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09h52
Sucesso da civilização inca se deve a lhamas, diz estudo
DA BBC BRASIL
Machu Picchu, a famosa cidade inca nos Andes peruanos, celebrará em
julho o centenário de sua "descoberta" pelo mundo exterior, em um evento
imponente, mas há indicativos de que as origens do local tenham sido
menos glamourosas.
Segundo pesquisa publicada no jornal "Antiquity", especializado em
arqueologia, a civilização inca pode ter crescido e evoluído graças aos
dejetos das lhamas.
A transição da caça e coleta à agricultura, 2.700 anos atrás, que
permitiu aos incas se acomodar e prosperar na área de Cuzco onde fica
Machu Picchu, diz o autor do estudo, Alex Chepstow-Lusty.
Aurelio Alejo/France Presse | ||
Homem vestido tradicionalmente se prepara para evento que marcará, em julho, os cem anos de Machu Pichu |
O pesquisador do Instituto Francês de Estudos dos Andes em Lima afirma
que o desenvolvimento da agricultura e o plantio de milho é um fator
crucial para o crescimento de civilizações. "Cereal faz as
civilizações", diz.
Chepstow-Lusty passou anos analisando os depósitos orgânicos na lama de
um pequeno lago chamado Marcaccocha, que fica localizada entre uma selva
e Machu Picchu.
Sua equipe encontrou uma correlação entre as primeiras aparições de
colheitas de milho entre 7000 a.C. --o que mostra a primeira vez que o
cereal teria sido plantado naquela altitude-- e um aumento vertiginoso
no número de parasitas que se alimentam de excrementos animais.
Os pesquisadores concluíram que a transição ampla à agricultura só foi
possível com um ingrediente extra: fertilizantes orgânicos usados em
grande escala. Em outras palavras, muitos dejetos de lhamas.
LEGADO
As lhamas eram e ainda são comumente usadas nos Andes peruanos para carregar produtos e prover carne e lã.
O lago Marcaccocha se localiza próximo a uma antiga rota de comércio, e
lhamas que transportavam bens entre a selva e as montanhas costumavam
parar ali para beber água e "fazer suas necessidades".
"Isso proveu fertilizantes, facilmente coletados --como ocorre hoje--
pela população local para as plantações ao redor", afirma
Chepstow-Lusty.
À medida que os incas adotaram o milho --rico em calorias-- em sua alimentação, sua sociedade se desenvolveu na região de Cuzco.
Cerca de 1.800 anos desde o início da transição para a agricultura, uma
onda prolongada de clima cálido permitiu que os incas realmente
prosperassem e construíssem grandes assentamentos de pedra, como Machu
Picchu e Ollaytaytambo.
A civilização acabou há muito tempo, destruída por conquistadores
espanhóis nos anos 1500, mas seus descendentes, os quéchuas, ainda usam
os dejetos de lhama como fertilizantes e como combustível para
aquecimento.
"O vale está repleto de indígenas que seguem esse estilo de vida de 2.000 anos", relata Chepstow-Lusty.
Quando os convidados chegarem a Machu Picchu para celebrar os cem anos
desde que o explorador Hiram Bingham mostrou ao mundo a existência do
local, talvez eles possam agradecer à humilde lhama ao vislumbrar as
construções.
FONTE: Folha.com/BBC Brasil
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