06/05/2011
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09h26
Nova vítima do aquecimento global é o pão francês
GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
A principal matéria-prima do pão francês é a mais nova vítima do
aquecimento global: o trigo está sendo afetado pelo aumento da
temperatura, e as lavouras de milho seguem a mesma tendência.
Não que as safras estejam diminuindo. Pelo contrário, estão aumentando
devido aos avanços nas tecnologias de produção. O que acontece é que,
com o aquecimento, esse aumento é menor do que aconteceria normalmente.
A afirmação é de cientistas das universidades Stanford e Columbia, nos
EUA, que analisaram o impacto das mudanças climáticas nas quatro
culturas que representam 75% das calorias consumidas pelos seres
humanos: arroz, trigo, milho e soja.
Os cientistas usaram dados de temperatura e chuva do período entre 1980 e
2008, além de informações sobre colheitas em todo o mundo. Com isso,
eles projetaram o resultado das lavouras sem o aquecimento e o
compararam com o que realmente aconteceu nos campos.
Elizabeth Elle/Folhapress |
Cientistas dos EUA cruzaram dados sobre produção de trigo e temperatura e chuvas ocorridas entre 1980 e 2008 |
A produção de trigo foi 5,5% menor do que seria se os termômetros não
tivessem subido. A de milho também foi afetada, encolhendo 3,8%. Já
lavouras de soja e de arroz não tiveram alterações.
Embora a redução ainda possa ser considerada modesta, ela já serve de alerta.
"Em alguns países, as tendências climáticas foram fortes o suficiente
para compensar parcela significativa do aumento de produção das lavouras
trazido pela tecnologia, fertilização com dióxido de carbono e outros
fatores", diz o trabalho, publicado na versão online da "Science".
Para o climatologista do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais) José Marengo, a pesquisa é válida, mas deveria considerar um
período de tempo maior.
"Os anos estudados são os extremos mais quentes. Eles deveriam ter
considerado também as décadas de 1960 e 1970, mais frias. Isso poderia
ter mostrado uma redução potencial menor das culturas", disse à Folha.
Marengo também criticou os cientistas por dar "pouca importância" ao
trabalho de adaptação das lavouras, como investimento em criação de
variedades mais resistentes e outras tecnologias. "Enquanto não podemos
reverter o aquecimento, é esse o caminho", afirmou.
Ironicamente, os EUA, que no período foram os maiores poluidores do
planeta, não tiveram aumento de temperatura e, consequentemente, perda
potencial de produção.
No Brasil, a produção de trigo foi a mais afetada, seguida por uma queda mais modesta na de milho.
Locais muito frios para a agricultura, como partes do Canadá e áreas do
Ártico, por outro lado, podem sair beneficiados com surgimento de zonas
quentes agricultáveis.
FONTE: Folha.com/Ambiente
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