segunda-feira, 9 de maio de 2011

NOVA VÍTIMA DO AQUECIMENTO GLOBAL É O PÃO FRANCÊS ( Meio Ambiente )

06/05/2011 - 09h26

Nova vítima do aquecimento global é o pão francês


GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO

A principal matéria-prima do pão francês é a mais nova vítima do aquecimento global: o trigo está sendo afetado pelo aumento da temperatura, e as lavouras de milho seguem a mesma tendência.
Não que as safras estejam diminuindo. Pelo contrário, estão aumentando devido aos avanços nas tecnologias de produção. O que acontece é que, com o aquecimento, esse aumento é menor do que aconteceria normalmente.
A afirmação é de cientistas das universidades Stanford e Columbia, nos EUA, que analisaram o impacto das mudanças climáticas nas quatro culturas que representam 75% das calorias consumidas pelos seres humanos: arroz, trigo, milho e soja.
Os cientistas usaram dados de temperatura e chuva do período entre 1980 e 2008, além de informações sobre colheitas em todo o mundo. Com isso, eles projetaram o resultado das lavouras sem o aquecimento e o compararam com o que realmente aconteceu nos campos.
Elizabeth Elle/Folhapress
Cientistas dos EUA cruzaram dados sobre produção de trigo e temperatura e chuvas ocorridas entre 1980 e 2008
Cientistas dos EUA cruzaram dados sobre produção de trigo e temperatura e chuvas ocorridas entre 1980 e 2008
A produção de trigo foi 5,5% menor do que seria se os termômetros não tivessem subido. A de milho também foi afetada, encolhendo 3,8%. Já lavouras de soja e de arroz não tiveram alterações.
Embora a redução ainda possa ser considerada modesta, ela já serve de alerta.
"Em alguns países, as tendências climáticas foram fortes o suficiente para compensar parcela significativa do aumento de produção das lavouras trazido pela tecnologia, fertilização com dióxido de carbono e outros fatores", diz o trabalho, publicado na versão online da "Science".
Para o climatologista do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) José Marengo, a pesquisa é válida, mas deveria considerar um período de tempo maior.
"Os anos estudados são os extremos mais quentes. Eles deveriam ter considerado também as décadas de 1960 e 1970, mais frias. Isso poderia ter mostrado uma redução potencial menor das culturas", disse à Folha.
Marengo também criticou os cientistas por dar "pouca importância" ao trabalho de adaptação das lavouras, como investimento em criação de variedades mais resistentes e outras tecnologias. "Enquanto não podemos reverter o aquecimento, é esse o caminho", afirmou.
Ironicamente, os EUA, que no período foram os maiores poluidores do planeta, não tiveram aumento de temperatura e, consequentemente, perda potencial de produção.
No Brasil, a produção de trigo foi a mais afetada, seguida por uma queda mais modesta na de milho.
Locais muito frios para a agricultura, como partes do Canadá e áreas do Ártico, por outro lado, podem sair beneficiados com surgimento de zonas quentes agricultáveis. 

FONTE: Folha.com/Ambiente

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