sexta-feira, 6 de maio de 2011

ESPÉCIE "FANTASMA" CRUZOU COM O SER HUMANO, DIZ ESTUDO ( Paleoantropologia )

Espécie "fantasma" cruzou com o ser humano, diz estudo


REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE CIÊNCIA

Os mesmos cientistas que revelaram a ascendência parcialmente neandertal de europeus e asiáticos de hoje flagraram outro caso de amor entre a nossa espécie e um primo extinto. Só que, desta vez, o "amante" pré-histórico é um fantasma.
Johannes Krause/Divulgação
Vista aérea da região da caverna de Denisova, no sul da Sibéria
Vista aérea da região da caverna de Denisova, no sul da Sibéria, onde vivia o hominídeo há 40 mil anos
Apenas um osso (a ponta de um dedo) e um dente quebrado da criatura, habitante da caverna de Denisova, na Sibéria, chegaram até nós. Foi o suficiente para que o genoma inteiro do hominídeo de 40 mil anos fosse lido --e comparado com o de pessoas de hoje e o de neandertais.
O resultado está na revista científica britânica "Nature": os denisovanos (como foram apelidados por seus descobridores) parecem ter evoluído de forma separada por algumas centenas de milhares de anos. Sumiram, mas não antes de legar pedacinhos de seu DNA aos ancestrais de alguns povos do Pacífico.
Creative Commons
Aldeão de tribo de Papua-Nova Guiné, possível descendente do hominídeo
Aldeão de tribo de Papua-Nova Guiné, possível descendente do hominídeo da Sibéria, apelidado de denisovano
Segundo a equipe liderada por David Reich, da Universidade Harvard (EUA), e Svante Pääbo, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva (Alemanha), cerca de 5% do DNA dos melanésios, moradores de Papua Nova-Guiné e adjacências, teria vindo do povo de Denisova.
Se as conclusões estiveram corretas, fica mais forte a ideia de que a interação entre várias espécies de hominídeos contribuiu para criar a humanidade moderna.
PEGANDO LEVE
Os últimos resultados sobre os cacos de hominídeos siberianos são, ao mesmo tempo, mais e menos radicais do que os indícios preliminares tinham sugerido.
No primeiro estudo sobre Denisova, publicado em março, Pääbo e companhia haviam analisado só o mtDNA (DNA mitocondrial) oriundo do osso do dedo. Presente nas mitocôndrias, as usinas de energia das células, o mtDNA é transmitido pelo lado materno e corresponde apenas a uma pequena parte do patrimônio genético de um indivíduo.
Olhando só o mtDNA, os cientistas tinham estimado que o povo de Denisova está evolutivamente isolado há cerca de 1 milhão de anos, antes que os ancestrais do Homo sapiens e dos neandertais tivessem se separado em duas linhagens diferentes.
"Seja lá o que for isso, trata-se de uma nova criatura, que simplesmente tinha escapado ao nosso radar até agora", declarou Pääbo.
Os novos dados, mais completos, indicam que, na verdade, os denisovanos são primos de primeiro grau dos neandertais, tendo se separado deles há uns 250 mil anos. Antes disso, formavam uma linhagem comum que teria divergido da nossa há uns 400 mil anos.
O mais maluco, no entanto, é que alguns trechos de DNA exclusivos dos denisovanos só aparecem no DNA de nativos de Papua-Nova Guiné e ilhas próximas, entre uma série de pessoas de origem europeia, asiática e africana cujo genoma foi analisado pelos pesquisadores.
A hipótese mais natural para explicar isso é que, quando deixaram a África, ancestrais das pessoas de hoje toparam com denisovanos em algum lugar da Ásia, tiveram filhos com eles e, mais tarde, essa população foi parar na Nova Guiné.
Ninguém sabe que cara tinha o povo de Denisova, mas o único dente (um molar) é enorme e tem morfologia peculiar. Suas dimensões lembram as de dentes de hominídeos muito primitivos. 

FONTE: Folha.com/Ciências

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